sábado, 28 de janeiro de 2012

O diabete no dentista

Esse profissional tem um papel cada vez mais relevante na identificação da doença. Ele pode suspeitar da existência do problema por meio de um simples exame rotineiro


 por Caroline Randmer • design Cinthia Suenaga e Laura Salaberry • fotos Gus








Muita gente carrega mais açúcar no sangue do que deveria e nem desconfia disso. Essas pessoas também nem imaginam que uma visita ao dentista contribui para flagrar o diabete. A fim de provar que a cavidade bucal pode delatar o problema, a Columbia University College of Dental Medicine, nos Estados Unidos, examinou 601 indivíduos com 30 anos de idade ou mais e que ainda não haviam sido diagnosticados com a doença. Ao iniciarem o estudo, os pesquisadores traçaram uma meta: encontrar as principais pistas capazes de denunciar que a glicose estava nas alturas.

Depois de cruzar os resultados das consultas de cada um dos participantes e dos exames de hemoglobina glicada, que nos dá a média de açúcar na circulação dos últimos 90 dias, os cientistas descobriram que, para aqueles que relataram ter pelo menos um fator de risco para o diabete — como o sobrepeso —, a falta de dentes e as inflamações crônicas da gengiva eram um indício do mal. "Conseguimos identificar níveis elevados de glicose em 36% dos voluntários", conta a dentista Evanthia Lalla, uma das autoras da pesquisa. Dito de outro jeito, uma visita a esse especialista ajuda a descortinar uma enfermidade que, na maioria das vezes, se desenvolve sorrateiramente, abalando a saúde do corpo inteiro.

O sobe e sobe da glicose

Quem é diabético lida constantemente com a baixa imunidade, já que a atuação das células de defesa fica comprometida por causa da hiperglicemia — quando a corrente sanguínea se torna, por assim dizer, mais adocicada do que o ideal. E os dentes não são exceção à regra. "As infecções progridem mais rápido e provocam um estrago ainda maior", explica Elaine Escobar, coordenadora do curso de odontologia do Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU), em São Paulo.

Para essas pessoas, se a higiene oral não for mais cuidadosa do que a de praxe, tende a surgir um acúmulo da placa bacteriana, o popular tártaro, que vai originar a gengivite — caracterizada por sangramento e inchaço. "E, se não for tratado, esse quadro costuma evoluir para a periodontite, que danifica as estruturas de suporte ao redor do dente, chegando a resultar em queda", explica Evanthia.

Quando as portas se abrem para as bactérias, é bem difícil fechá-las. "Por causa da menor eficiência das células defensoras, o processo de reparação das doenças gengivais é mais lento e demanda um maior zelo", alerta Elaine. A hiperglicemia, além de favorecer a entrada de micróbios estranhos, interfere na locomoção dos nossos soldados internos e na síntese de colágeno, proteína encarregada de cicatrizar a gengiva inflamada.

"Tudo isso também está relacionado à diminuição da qualidade e da quantidade de saliva", diz Alexandre Fraige, diretor do Departamento de Odontologia da Associação Nacional de Assistência ao Diabético. Nos portadores de diabete, esse detergente natural não atua como esperado (veja o infográfico na página seguinte).

Debelar infecções na boca também é uma forma de frear o mal do sangue doce. "A periodontite, por exemplo, exacerba a resistência à insulina", esclarece o endocrinologista Carlos Eduardo Couri, autor do livro O Futuro do Diabete (Editora Abril). Aí, nesse caso, esse hormônio não consegue desempenhar sua função primordial, que é botar o açúcar para dentro das células. "Podemos dizer, assim, que a situação é uma via de mão dupla. O diabete dificulta o tratamento das doenças periodontais e elas agravam ainda mais o diabete", complementa o odontologista Walter Bretz, professor da Universidade de Nova York, nos Estados Unidos.

Mas, mesmo quando a infecção está em um nível avançado, é possível restabelecer a saúde oral e assumir as rédeas da doença. O acompanhamento odontológico, juntamente com uma alimentação adequada, vai, aos poucos, regulando a glicemia. "Todo endocrinologista deve orientar o diabético a ir ao dentista", diz Couri. Aí, as visitas à cadeira desse especialista passam a ser trimestrais. "Quando os profissionais conversam, o tratamento fica mais fácil." Agora só resta uma pergunta: já fez seu checkup odontológico?

Sinais na boca de um sangue doce demais

> Boca seca
> Aftas
> Úlceras
> Fissuras na língua
> Mau hálito
> Dores na língua e na mucosa
> Lesões herpéticas
> Cáries
> Comprometimento
> do esmalte
> dentário

Como o açúcar do sangue prejudica o sorriso


Não basta evitar guloseimas. A doçura da circulação também traz ameaças







1. A saliva em pessoas com os níveis de açúcar normais é espessa, criando uma camada de proteção eficaz.

2. Já nos diabéticos, ela é mais escassa, tem menos fatores de proteção e carrega glicose, que vai ser digerida pela bactéria, favorecendo a cárie.

3. Ao ser atacado pelas bactérias, o corpo recruta células de defesa. Nos diabéticos, porém, elas até chegam ao campo de batalha, mas sem energia, já que a insulina não as supre com açúcar. Daí, o fígado passa a usar as reservas de glicogênio, liberando mais e mais glicose. Esse é um dos motivos pelos quais as infecções orais aumentam a glicemia no organismo.


Testes para checar a doçura no sangue


Glicemia

É a famosa picada no dedo. Dosa o nível de glicose circulante no corpo naquele momento. É importante lembrar que o resultado de uma pessoa medicada ou em jejum pode apresentar alterações.

Hemoglobina glicada

Conhecido por ser o melhor método de controle glicêmico, reflete a média de açúcar no sangue dos últimos 60 a 90 dias. Por esse motivo, não registra variações bruscas. O resultado sai em até 48 horas.

Tolerância à glicose

São coletadas duas amostras de sangue e, no intervalo entre elas, a pessoa ingere uma solução açucarada. O laboratório compara a taxa de glicose de ambas para revelar a resistência à insulina de cada indivíduo.


Fonte: Saúde É Vital! Out/11

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