quinta-feira, 28 de junho de 2012

A longa história da cárie




Fernando Reinach

Muita coisa melhorou na vida do Homo sapiens nos últimos 20 mil anos, mas uma piorou: a quantidade de cáries. É o que concluiu um grupo de dentistas, antropólogos e arqueólogos.
Saber se diabete ou hipertensão eram frequentes na Idade da Pedra Lascada é praticamente impossível. Esqueletos, ruínas e artefatos são tudo de que dispomos para entender como era a vida de nossos ancestrais.
Algumas vezes encontramos ossos quebrados e marcas de pancadas nos crânios, o que permite avaliar o nível de violência ou os acidentes do no dia a dia. Mas talvez nunca venhamos a saber a incidência de doenças metabólicas ou a prevalência da obesidade.
Mas, se essa ignorância incomoda os médicos, os dentistas têm mais sorte. A quantidade de fósseis de crânios humanos é enorme. Muitos se dedicam a verificar o estado dos dentes de nossos antepassados, correlacionando seus achados com a época em que viveram, seus hábitos alimentares e a idade de cada um.
Nossos parentes distantes, os macacos, dificilmente apresentam cáries durante a maior parte de sua vida. Elas e outras doenças dentárias só aparecem no final da vida e são sinal de envelhecimento.
O que sabemos dos dentes de nossos ancestrais mais antigos vem do exame de crânios de humanos que viveram antes do desenvolvimento da agricultura. Examinando mais de mil crânios dessa época, foi constatada pelo menos uma cárie em só 2% dos indivíduos. Eram coletores e caçadores, comiam raízes, frutos, sementes duras e um pouco de carne.
O estado dental começou a piorar há 13 mil anos, no Neolítico, quando surgiu a agricultura. Nessa amostra de crânios, 9% deles possuíam uma cárie. Nessa época o consumo de grãos moídos, ricos em carboidratos, começou a fazer parte da dieta humana. Muito depois, tanto no Egito (há 3,3 mil anos) quanto nos crânios de aborígenes australianos (há uns 70 anos), a quantidade de cáries era próxima a 2%, mas esses povos não haviam adotado completamente a dieta rica em grãos típica das civilizações que adotaram a agricultura.
Açúcar. Nas populações europeias, há até 4 mil anos, a quantidade de crânios com cáries era de 10%. Há cerca de 2,3 mil anos, Alexandre, o Grande, trouxe o açúcar à Grécia. A quantidade de cáries aumentou lá, em Roma e depois em toda a Europa durante a Idade Média. O mesmo ocorreu na Inglaterra, quando, após a conquista das Índias, os navios trouxeram grandes quantidades de açúcar. O imposto sobre o açúcar foi reduzido em 1874 e o consumo explodiu. A partir desse momento, mais de 90% dos crânios ingleses possuem múltiplas cáries em quase todos os dentes.
Nessa época a alta incidência de problemas dentários fez com que as pessoas passassem a limpar os dentes: surgiram escovas, pastas, dentistas. Essa nova tecnologia estancou a incidência de cáries, que estabilizou em nível alto (50% a 90% das pessoas com cáries) na a Europa até meados do século 20. Em 1970, foi introduzido o flúor na água, o que melhorou um pouco a situação. Agora, no início do século 21, pela primeira vez a incidência está aumentando novamente.
A introdução de carboidratos purificados (amido) e solúveis (açúcar) em nossa dieta é provavelmente o grande culpado pelas cáries. Esse estudo é um bom exemplo de como a evolução tecnológica da humanidade é muito mais rápida que a biológica.
Nossa espécie viveu por milhões de anos comendo raízes, frutas, grãos e carne. Sobreviveram os indivíduos com dentes que resistiam nesse ambiente, mesmo sem higiene bucal. Mas o homem descobriu a agricultura e, com ela, carboidratos fáceis e baratos. E começou a consumi-los, apesar de seus dentes não estarem adaptados. Os dentes passaram a apodrecer rapidamente, o que deveria ter pressionado a população a comer menos destes alimentos. Mas novas tecnologias, como a escova e a dentadura, livraram-nos da pressão seletiva, a força maior da evolução.
A lição é simples: qual a melhor dieta para o ser humano? Aquela para a qual fomos selecionados durante milhões de anos, a dos que viveram antes da descoberta da agricultura.
* BIÓLOGO

MAIS INFORMAÇÕES: AN EVOLUTIONARY THEORY OF DENTISTRY. SCIENCE,  VOL. 336,  PÁG. 973,  2012

terça-feira, 19 de junho de 2012

Arco em " Z "


Um dos princípios da Terapia Bioprogressiva é o tratamento com arcos seccionados.Arco seccionado " Z " administra os movimentos do canino e do primeiro molar conjuntamente,através de 6 ativações,mergulhando os dentes dentro do osso esponjoso mais vascularizado,facilitando o deslocamento em blco pra distal. 
Tempo de uso:  3 1/2 meses.Paciente,extremamente,colaborador!




Cárie e lesõesde mancha branca durante o tratamento ortodôntico











Quais os conceitos mais atuais sobre cárie e o que são as lesões de mancha

branca ou cavitações que podem aparecer durante o tratamento ortodôntico?

Quais os estados da arte em relação aos métodos de prevenção de cárie

durante o tratamento ortodôntico e condutas com relação às manchas

brancas e lesões de cárie mais avançadas?

Rosely Suguino







Introdução

Inicialmente gostaría de dividir a pergunta em duas partes, devido
à complexidade das respostas. Iniciarei tecendo considerações
sobre a primeira parte da questão.
Durante as duas últimas décadas temos presenciado uma evolução
ímpar da ciência e especialmente da Odontopediatria, que compreende
uma extensa e difícil área da Odontologia. Esse tremendo
progresso deixa-nos maravilhados e, ao mesmo tempo, extremamente
preocupados, tanto no sentido da atualização quanto na responsabilidade
de transmitir aos nossos alunos e colegas os avanços, sem
que tenhamos a pretensão de nos adiantarmos à comprovação científica,
hoje tão bem estabelecida pelos grupos da MacMaster University
(Canadá) e de Oxford (Inglaterra) que estudam e guiam os trabalhos
de pesquisa embasados cientificamente. Atualmente, esses conceitos
estão bem estabelecidos tanto na Medicina quanto na Odontologia

A Odontologia baseada em evidências já é um fato a ser
considerado, pois sua prática tornou-se mais complexa e desafiadora
nas últimas décadas. A necessidade de informações confiáveis e a revolução
eletrônica uniram-se para permitirem uma mudança radical
de pensamentos e deduções. As informações baseadas em evidências
fecharam um espaço existente entre as pesquisas clínicas e a prática
real da Odontologia em suas diversas áreas. Dessa forma, estão sendo
constantemente transmitidos conhecimentos novos, embasados
cientificamente, o que permite ao profissional clínico interpretar e
aplicar os achados das pesquisas em benefício dos seus pacientes.
Os avanços conceituais e técnicos sobre cárie não ficaram à
margem de todo esse progresso. Como atuamos diretamente na
Odontopediatria e na Cariologia, temos tentado acompanhar, com
muito interesse, o ritmo frenético de evolução das novidades. Muitos
trabalhos de revisão sistemática da literatura têm sido publicados
e pesquisas clínicas randomizadas controladas
realizadas
in vivo,
in vitro
e in situ. São numerosíssimos os artigos publicados na lite
ratura nacional e internacional. Portanto, cabe dentro dos conceitos
da Odontologia embasada cientificamente fazer-se uma seleção dos
trabalhos, filtrando aqueles que realmente atendem a esses conceitos.
Assim, aceitamos o desafio de, em um espaço limitado, transmitir
de uma forma compilada, as informações mais recentes que
tivemos a oportunidade de ler e aprender. Espero poder acrescentar
um pouco mais para aqueles que trabalham em uma área difícil e
complexa como a Ortodontia, sendo que não lhes caberia mais tempo
e trabalho para a atualização em outras.





Imagem:Google



domingo, 10 de junho de 2012

Forças intermitentes podem ser convenientes no tratamento ortodôntico



Por Alberto Consolaro








Interromper a ação de uma força ortodôntica contí-
nua e dissipante para novamente aplicá-la nos mesmos
dentes, depois de um período de tempo, pode ser necessário e/ou inevitável, mas também pode ser optativo.
Em casos de traumatismos, quebras de aparelhos fixos, descolagem e outros tipos de acidentes é inevitá-
vel que por, pelo menos, alguns minutos, horas ou até
dias ocorra a interrupção da força contínua, constante
ou dissipante. Em casos de problemas periodontais,
alterações endodônticas, fraturas coronárias e outras
situações, em que para o profissional atuar deve-se remover o aparelho ou desativar a força aplicada, a interrupção é necessária.
 Os aparelhos ortodônticos podem ser removíveis
e o seu uso, contínuo ou intermitentemente, interrompido. Se isto pode melhorar ou dificultar a movimentação dentária, quanto à velocidade e redução da
freqüência de reabsorções dentárias, ainda é objeto de
muita discussão e controvérsia.
Nos aparelhos fixos, o uso de elásticos e de miniimplantes propicia a oportunidade de aplicar forças
contínuas que podem sofrer períodos de interrupção,
sem a remoção dos mesmos. Estas interrupções são
freqüentemente denominadas períodos de inativação
ou de repouso.
Há alguns anos, atrás o uso de aparelhos extrabucais era generalizado e os períodos de inativação das
forças eram comuns, quando removidos para atividades escolares e lazer. A colaboração do paciente era
fundamental, mas muitas vezes não era obtida.
Na atualidade, na finalização dos casos clínicos, a
ancoragem temporária pode ser feita na intercuspida-
ção com o uso alternado de elásticos intermaxilares
nos dentes antagonistas.
Nas primeiras horas da movimentação induzida,
em condições clínicas de movimentos de inclinação,
o deslocamento dentário pode ser até de 0,9mm, mas
isto ocorre pela compressão do ligamento periodontal,
pela rotação radicular no alvéolo e pela deflexão óssea

. Mas algumas dúvidas ainda persistem:

* Quanto tempo demora para o osso alveolar ser
reabsorvido pelas células ósseas e sua morfologia mudar e situar o dente em uma posição nova e estável?
* Qual o intervalo de tempo em que uma força
contínua dissipante pode ser reaplicada no mesmo
dente, com o mínimo dano à raiz, ligamento periodontal e osso alveolar?
*
Estas repetidas aplicações de forças e períodos
de interrupção promoveriam reabsorções radiculares?

Em  syllabus de 1975, Andrews
sugeriu um período mínimo de 10h para ativar a reabsorção óssea pelos clastos na superfície do alvéolo, durante a movimentação dentária induzida sob forças constantes.
A eliminação do estresse mecânico pela suspensão da
força, mesmo após um curto período de tempo, seria suficiente para interromper a atividade clástica. Forças intermitentes podem ser convenientes no tratamento ortodôntico

Uma nova aplicação de forças requeriria uma retomada
do processo desde o seu início.

A “teoria das 10 horas” formulada por Andrews
determinou clinicamente a necessidade do uso contí-
nuo de aparelhos ortodônticos removíveis, se o objetivo fosse a movimentação dentária. Por outro lado,
a teoria das 10h dá suporte à ancoragem temporária
na intercuspidação, como o uso alternado de elásticos
intermaxilares nos dentes antagonistas na finalização
de casos clínicos, movimentando apenas os dentes de
interesse, sem efeitos colaterais indesejáveis nos demais dentes que não se quer movimentar.
O tempo de 10h estabelecido por Andrews
 se aproxima do observado por Roberts et al., que preconizaram
a utilização do aparelho extrabucal entre 10 e 12h para
a manutenção da ancoragem e um mínimo de 12h para
desencadear a resposta biológica capaz de promover
a movimentação dentária satisfatória. Uma condição
favorável de neoformação e reabsorção requer alguns
dias de força contínua dissipante para que os osteoblastos e clastos adquiram condições máximas de fun-
ção. Do início da histogênese do osteoblastos, quando
passa da fase de pré-osteoblastos, até sua maturação,
são necessários aproximadamente 72h. Os clastos por
sua vez, em um espaço periodontal sob estresse, alcan-
çam sua função máxima por volta de 48h.
Apesar de amplamente difundida, a “teoria das 10
horas” só foi microscopicamente estudada em 1996,
quando Cuoghi, em sua tese de doutorado em macacos, quantificou a movimentação dentária nas primeiras
24h e estudou microscopicamente os fenômenos teciduais induzidos, para esclarecer a conveniência do uso
clínico de forças contínuas ou intermitentes. Sob força
contínua dissipante analisou-se a movimentação depois
de 5, 10, 15, 20 e 25h. Na situação de força contínua intermitente os períodos foram: 10h de força com 5h de
repouso, 10hF/10hR, 10hF/5hR/5hF e 10hF/5hR/10hF.
Os resultados nas primeiras 25 horas revelaram que:

a) a movimentação dentária induzida atingiu seu
pico máximo após 10h de força contínua dissipante;
b) nos períodos de 10, 15, 20 e 25h as movimentações dentárias não apresentaram diferenças significantes, pois permaneceram no mesmo patamar das
10h de movimentação;
c) as forças contínuas sem períodos de repouso
proporcionaram maiores movimentações. Após 10h de
força contínua dissipante e repouso de 5h, a quantidade de movimentação foi menor nas reativações em
períodos de 5 e 10h de força.

As conclusões foram:

1. Para uma movimentação dentária efetiva, as
forças devem ser contínuas. Os períodos de repouso
devem ser mínimos e a interrupção da força não favorece a movimentação dentária;
2. Nas primeiras 20h, microscopicamente sem
alterações ósseas, a movimentação ocorreu pela compressão do ligamento e pela deflexão óssea e não pela
ação de células clásticas e conseqüente reabsorção óssea alveolar;
3. A deflexão óssea nos lados de pressão e tensão
está intimamente relacionada com a pressão radicular
e o estiramento das fibras periodontais.

A falta de movimentação dentária induzida, com
base na reabsorção óssea nas primeiras 20 horas, revela
que a interrupção das forças pode ser conveniente clinicamente na ancoragem temporária, como na intercuspidação, com uso alternado de elásticos intermaxilares nos dentes antagonistas, facilitando a finalização
de casos clínicos. Os dentes utilizados na ancoragem
durante a intercuspidação voltam a sua posição original, pois o seu movimento baseou-se exclusivamente
na compressão periodontal e na deflexão óssea. A mobilização celular e tecidual para iniciar esta movimentação requer um período muito maior que 10 horas.
Outro enfoque sobre as forças contínuas ou intermitentes está na observação que o emprego de forças
descontínuas promoveu menor freqüência de reabsor-
ções radiculares em pré-molares humanos movimentados por 9 semanas

. Em um dos lados, a força aplicada com elásticos foi contínua por 24h/dia, no outro a
força era aplicada a cada 12h.


Leia aqui:
http://www.dentalpress.com.br/cms/wp-content/uploads/2008/04/controversia_v5n5.pdf
Imagem: Google

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Metade dos casos de dor de cabeça está ligada à mandíbula





A dor é na cabeça, mas a causa pode estar na boca, ou melhor, na mandíbula. Especialistas estimam que 50% das cefaleias estejam ligadas a distúrbios da ATM (articulação temporomandibular).

Esses problemas podem causar dores de cabeça, às vezes confundidas com enxaqueca. E o caminho até o diagnóstico pode ser longo.

Segundo o dentista Paulo Conti, do Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais da USP de Bauru, poucas pessoas associam a dor de cabeça à mandíbula.

Mesmo assim, um terço da população tem pelo menos um dos sintomas do distúrbio, como dor, estalo ou dificuldade para abrir a boca.

"Muitas vezes nem os médicos fazem essa associação. O paciente chega ao consultório do neurologista com dor e ele não imagina que o problema possa estar na ATM."

Ele preside a SBDOF (Sociedade Brasileira de Disfunções Temporomandibulares e Dor Orofacial), criada por ele há alguns meses para dar orientações sobre a ATM.

De acordo com o dentista Rodrigo Bueno, consultor científico da ABO (Associação Brasileira de Odontologia), a diferença entre a dor de cabeça da ATM e a da enxaqueca está na localização.

"A dor causada pelos distúrbios da ATM está mais na região lateral. E é tão aguda que a pessoa fica em dúvida se o incômodo é na cabeça, no ouvido ou nos dois."

Foi graças à dor de ouvido que a professora Marisa Rogati, 56, de São Paulo, descobriu, há dois anos, a causa de sua dor de cabeça, com a qual conviveu por quase 20 anos.

O otorrino disse que poderia ser algo relacionado à ATM, e a ortodontista confirmou a suspeita. "Nunca imaginei que a dor pudesse ter algo a ver com os dentes."

Desde os 35 anos, ela acordava com fortes dores de cabeça. "Achava que era o travesseiro. Saía um modelo novo e eu comprava." Como tratamento, usou aparelho ortodôntico por cerca de um ano.



DOSE DUPLA

Segundo a ortodontista Leda Losso, os problemas de ATM podem vir junto com a enxaqueca. "Mas solucionar os distúrbios da ATM já faz com que a pessoa lide melhor com a enxaqueca."

É o caso de Julieta Anazetti, 58, que tem enxaqueca desde criança, assim como outros membros da família.

"Depois dos 38 anos, as crises ficaram mais fortes e aconteciam de madrugada."

Julieta travava a boca ao ficar tensa, o que desencadeou os distúrbios da ATM. Hoje, usa uma placa no céu da boca que a impede de pressionar os dentes. O tratamento acabou com as dores na ATM e melhorou a enxaqueca.

"Em 20 anos fiz muitas tomografias e ressonâncias magnéticas e tomei remédios. Fui a vários médicos, que nunca suspeitaram da ATM."


Para quem convive com fortes dores de cabeça, o ideal, segundo Losso, é consultar também um ortodontista.








Fonte:Folha.com