segunda-feira, 15 de abril de 2013

Adultos aderem ao uso de aparelho dentário; confira os tipos



PRISCILA PASTRE-ROSSIda Folha de S.Paulo
Aos 31 anos, Adriane Rayol teve de reaprender a fazer coisas que, até então, eram parte da sua rotina, como comer e falar. Morder uma maçã acabava de se transformar em uma missão impossível.

Foi diante de um sanduíche que a bacharel em direito notou as mudanças. "Mordi o lanche com força. Se até aquele momento eu não tinha me dado conta de que estava com aparelho, foi o suficiente para eu não me esquecer mais", diz, lembrando-se do quanto ficou dolorida e da estranheza de sentir a comida nos "brackets" (pecinhas coladas nos dentes) recém-colocados.

O desconforto, brinca ela, foi recompensado quando o marido a viu com a aparência nova: "Você ficou com cara de menina de 12 anos", disse. Segundo ortodontistas ouvidos pela Folha, os adultos já chegam a ocupar mais da metade das agendas dos consultórios, disputando horários com crianças e jovens.

Em geral, quem procura um profissional após os 21 anos é motivado pelo desejo de melhorar a aparência. Mas, se o tratamento exigir o uso do aparelho ortodôntico, é preciso estar preparado para passar por uma fase de adaptação.

O funcionário público Alexandre Pereira, 36, colocou o fixo há um ano e dois meses, quase ao mesmo tempo que sua filha, Camila, 13. "Quando saímos juntos, me sinto praticamente um coleguinha de escola dela. Gosto disso."

Bruno Miranda/Folha Imagem
Alexandre Pereira usa aparelho nos dentes há um ano e meio e deve tirá-lo até o fim do ano

 
Alexandre Pereira usa aparelho nos dentes há um ano e meio e deve tirá-lo até o fim do ano

 
Ele, que não sente dor nem na manutenção mensal, já teve problemas com o aparelho. "Uma cotovelada em um jogo de basquete fez meus lábios grudarem nele. Minha boca inchou por dias." Outra situação que o incomoda é sair para jantar. "Frente a frente com a minha mulher, ela vê a sujeira que fica entre os 'brackets'. Tento fugir de pratos com alface", brinca.

José Rino Neto, professor do departamento de ortodontia e odontopediatria da Faculdade de Odontologia da USP (Universidade de São Paulo), diz que os pacientes têm um trabalho extra importante a fazer depois das refeições: "Não basta escovar os dentes. É preciso escovar o aparelho." Uma higienização malfeita deixa sujeira em volta dos 'brackets', o que compromete o esmalte dos dentes e pode levar à formação de cáries ou à gengivite (inflamação das gengivas).

Para evitar esses inconvenientes, é recomendável usar o passa-fio --uma espécie de agulha de plástico que auxilia na limpeza com o fio-dental-- e a escova interdental, que limpa entre os dentes. Os acessórios são encontrados nas farmácias.

Segundo Ive Maria Falcone Patullo, especialista em ortodontia e ortopedia funcional dos maxilares, é falsa a idéia de que o tratamento ortodôntico em adultos sempre leva mais tempo do que o dos adolescentes. "Muitas vezes o indivíduo quer apenas uma leve mudança no sorriso. Os parâmetros do tratamento são outros."

40 anos depois

A artista plástica Suely Heloísa Santos, 60, usou aparelho fixo praticamente durante toda a adolescência. Devido à movimentação natural que a arcada sofre com o tempo, ela viu, aos 58 anos, os dentes fora de lugar. "Lá estava eu, 40 anos depois de ter tirado aparelho, colocando o fixo de novo. Assim que vi aquele sorriso adolescente, pedi para a ortodontista tirar tudo. Desisti."

Dois anos após abandonar o tratamento estético, ela notou que a mordida estava comprometida e que os dentes estavam ficando moles. A deformação gradual da arcada fez com que Suely voltasse ao consultório.

A possibilidade de colocar a versão móvel em cima --apesar do fixo embaixo-- a animou. "Não me arrependo porque já estou vendo os resultados", diz.

Opções

Além de atuar na boca com mais força e precisão, o aparelho fixo com "brackets" metálicos é a opção mais barata e a que tem mais anos de estudo. Apesar disso, muitos adultos se sentem constrangidos com a aparência que ele proporciona.

De olho nesse mercado, surgem alternativas. A mais conhecida é o chamado aparelho "estético" --com "brackets" brancos.

Podendo custar o dobro do preço cobrado pelo tradicional, ele descola dos dentes com mais facilidade e pode dar impressão de um sorriso amarelado, já que as borrachinhas transparentes mancham quando em contato com alimentos como café ou molho de tomate.

"Os meus 'brackets' de baixo descolavam. Tive de substituir os que mais caíam por outros, de metal", conta Adriane Rayol.

Outra opção para não comprometer o visual é o aparelho lingual. Colado na parte de trás dos dentes, ele tem uma adaptação mais complicada porque pode afetar a dicção. Segundo Marcelo Marigo, um dos fundadores da Abol (Associação Brasileira de Ortodontia Lingual), se for feito e colocado de forma adequada, ele não machuca e não interfere na fala.

Mas o sonho de todo adulto com aparelho fixo continua sendo a chegada de um aparelho que faça o mesmo trabalho, mas que seja... móvel. Há cinco anos chegou ao Brasil uma técnica com essa pretensão.

Trata-se de um molde em acetato transparente que se encaixa à arcada dentária e pode ser retirado a qualquer momento. Não é um aparelho propriamente dito, mas um alinhador indicado apenas para casos simples, como os de leve espaçamento entre os dentes. Esse tratamento pode custar de US$ 4.000 a US$ 5.000, bem mais caro que o convencional.

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