segunda-feira, 13 de maio de 2013

Tratamento de canal menos doloroso que antigamente



Pesquisadores cariocas mapeiam o jeito mais certeiro de tratar o problema de canal






Ele está na boca do povo, provocando dores que nem comprimidos de analgésico silenciam. É voar até o consultório e ouvir: "Precisamos tratar o canal". Antes que a vítima rogue pragas imaginando que perderá o dente ou passará por uma sessão de tortura, convém lhe informar que ela vive no século 21 e a endodontia, especialidade focada nas profundezas da dentição, evoluiu bastante. Foi-se o tempo em que resolver um canal demandava três, quatro peregrinações, às vezes dolorosas, até ali. E é no sentido de aprimorar ainda mais os procedimentos e seus resultados que um grupo da Universidade Estácio de Sá, no Rio de Janeiro, tem pesquisado as melhores formas de arrematar o suplício. "Queríamos saber qual o tratamento mais eficiente para eliminar a infecção que ataca a polpa do dente", conta o dentista José Freitas Siqueira Júnior, coordenador do Programa de Pós-Graduação em Odontologia da instituição.

Agora, um momento de suspense não proposital. Porque, antes de revelar os achados da equipe de Siqueira, é nosso dever desmitificar o que é o canal. O senso comum prega que é a morte do dente ou a ruína do nervo que mora ali. "O termo se refere, na verdade, a um processo de inflamação e infecção na polpa dentro do dente e que, quando progride, pode levar à morte dessa estrutura e chegar até a raiz", explica Giulio Gavini, professor titular de endodontia da Universidade de São Paulo.

E como será que as bactérias fariam esse ataque terrorista? "As duas principais causas de canal são a cárie e traumas nos dentes", conta o endodontista Mario Zuolo, da Associação Paulista de Cirurgiões-Dentistas. Ou seja, a corrosão gradual ou a destruição das suas camadas externas abrem a brecha para os micróbios tomarem a polpa, cheia de vasinhos e terminações nervosas. "Por causa da inflamação, aumenta a pressão ali dentro, oque comprime o nervo e causa dor", descreve Siqueira. Se o indivíduo demora para ir ao dentista — e não é à toa que até alguns prontos-socorros já dispõem de especialistas —, a contaminação leva à necrose, estágio em que a infecção avança dente abaixo e não raro gera abscessos. Daí os inchaços no rosto.

A história relatada nas páginas anteriores é compartilhada todo ano por milhares de brasileiros. "Nos Estados Unidos, estimasse que cerca de 40 milhões de tratamentos de canal sejam feitos anualmente. Embora não tenhamos estatísticas precisas no Brasil, o número também deve ser expressivo por aqui", acredita Caio Ferraz, professor de endodontia da Faculdade de Odontologia de Piracicaba, vinculada à Universidade Estadual de Campinas. "Um trabalho recente na Região Norte do país mostra que uma em cada cinco pessoas já se submeteu ao procedimento", completa.

Apaga o fogo e reforma a casa
Quando alguém chega ao dentista com o canal em crise, o tratamento se divide basicamente em abrir o dente e aliviar a dor infernal, desalojar as bactérias invasoras dali e, por fim, remendar sua área interna. No estudo da Universidade Estácio de Sá, conduzido com 80 pessoas, os especialistas buscavam identificar técnicas e medicamentos mais eficazes para que o tratamento ocorresse numa boa e não cobrasse complicações mais tarde. "Descobrimos que, após remover a polpa doente, quanto mais largos forem os espaços para introduzir depois o material de obturação, maior a chance de eliminar as bactérias", relata Siqueira. Ele e seus colegas também notaram que é melhor tratar o canal em duas sessões quando a infecção toma conta da polpa— na primeira faz-se a faxina extraindo a área contaminada e, uma semana depois, instala-se a obturação definitiva —, embora existam casos em que uma única ida ao dentista seja suficiente. E ainda identificaram a substância antimicrobiana e o material de vedação mais duros na queda.

Dados como esses ajudam a nortear as operações e minimizar falhas que culminam na reincidência do problema. "Muita gente ainda teme que o tratamento de canal siga a regra dos três Ds: demorado, difícil e dolorido, o que é um engano", garante Zuolo. "Hoje, com um profissional capacitado, em pouco mais de uma hora tratamos o dente", pontua Siqueira. Ter esse cenário mais tranquilizador em mente é importante para que ninguém negligencie a invasão da polpa dentária. "O canal não tratado pode virar um foco de infecção capaz de causar abscessos até nas regiões das vias aéreas. E ainda há a possibilidade de as bactérias ganharem a corrente sanguínea e afetarem órgãos como o coração", alerta Ferraz. Reparou que os micróbios são os grandes responsáveis pela confusão? Não à toa, o time do professor Siqueira também se debruça sobre as principais bactérias que penetram nos meandros da dentição. Uma curiosidade: o bichinho mais envolvido no canal não é o mesmo da cárie, que parece cavar o caminho para o seu parceiro atacar. "Só dá para desenvolver uma vacina se conhecermos o que causa o problema", compara Siqueira, fazendo alusão à escolha e à procura de drogas mais específicas e potentes contra o micro-organismo.

Toda informação é útil para deixar as técnicas odontológicas mais apuradas. Oque, no caso da endodontia, significa salvar, sempre que possível, o arcabouço dentário— é claro que, às vezes, o dano é tão grande que pede a implantação de uma coroa. "Nosso objetivo é prevenir a extração do dente, e hoje, felizmente, as taxas de sucesso no tratamento de canal chegam a 95%", diz Gavini. E olha que a ciência não se dá por satisfeita. Já são testadas em laboratório até mesmo células-tronco a fim de regenerar a polpa perdida. Lógico, isso demorará alguns anos para chegar à boca humana. Por isso, é bom voltar a falar em prevenção. Quem não deseja enfrentar a dor violenta do canal nem ter de apelar ao dentista para apagar o incêndio e reformar o dente precisa aderir às regras básicas da higiene bucal: escovar e passar o fio depois das refeições e visitar o consultório odontológico pelo menos uma vez por ano. Afinal, apesar de tantos avanços, prevenir ainda é melhor que consertar.








 
 
 
 
 

A hora do restauro


Em um segundo momento, o especialista usa um material de obturação para rechear o espaço ocupado pela polpa, mantendo, assim, a carapaça do dente. Se a estrutura toda estiver muito danificada, é preciso instalar uma coroa para fazer as vezes do dente.
 
 
 
 
FONTE: Revista Saúde é Vital!
 
 

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