domingo, 10 de junho de 2012

Forças intermitentes podem ser convenientes no tratamento ortodôntico



Por Alberto Consolaro








Interromper a ação de uma força ortodôntica contí-
nua e dissipante para novamente aplicá-la nos mesmos
dentes, depois de um período de tempo, pode ser necessário e/ou inevitável, mas também pode ser optativo.
Em casos de traumatismos, quebras de aparelhos fixos, descolagem e outros tipos de acidentes é inevitá-
vel que por, pelo menos, alguns minutos, horas ou até
dias ocorra a interrupção da força contínua, constante
ou dissipante. Em casos de problemas periodontais,
alterações endodônticas, fraturas coronárias e outras
situações, em que para o profissional atuar deve-se remover o aparelho ou desativar a força aplicada, a interrupção é necessária.
 Os aparelhos ortodônticos podem ser removíveis
e o seu uso, contínuo ou intermitentemente, interrompido. Se isto pode melhorar ou dificultar a movimentação dentária, quanto à velocidade e redução da
freqüência de reabsorções dentárias, ainda é objeto de
muita discussão e controvérsia.
Nos aparelhos fixos, o uso de elásticos e de miniimplantes propicia a oportunidade de aplicar forças
contínuas que podem sofrer períodos de interrupção,
sem a remoção dos mesmos. Estas interrupções são
freqüentemente denominadas períodos de inativação
ou de repouso.
Há alguns anos, atrás o uso de aparelhos extrabucais era generalizado e os períodos de inativação das
forças eram comuns, quando removidos para atividades escolares e lazer. A colaboração do paciente era
fundamental, mas muitas vezes não era obtida.
Na atualidade, na finalização dos casos clínicos, a
ancoragem temporária pode ser feita na intercuspida-
ção com o uso alternado de elásticos intermaxilares
nos dentes antagonistas.
Nas primeiras horas da movimentação induzida,
em condições clínicas de movimentos de inclinação,
o deslocamento dentário pode ser até de 0,9mm, mas
isto ocorre pela compressão do ligamento periodontal,
pela rotação radicular no alvéolo e pela deflexão óssea

. Mas algumas dúvidas ainda persistem:

* Quanto tempo demora para o osso alveolar ser
reabsorvido pelas células ósseas e sua morfologia mudar e situar o dente em uma posição nova e estável?
* Qual o intervalo de tempo em que uma força
contínua dissipante pode ser reaplicada no mesmo
dente, com o mínimo dano à raiz, ligamento periodontal e osso alveolar?
*
Estas repetidas aplicações de forças e períodos
de interrupção promoveriam reabsorções radiculares?

Em  syllabus de 1975, Andrews
sugeriu um período mínimo de 10h para ativar a reabsorção óssea pelos clastos na superfície do alvéolo, durante a movimentação dentária induzida sob forças constantes.
A eliminação do estresse mecânico pela suspensão da
força, mesmo após um curto período de tempo, seria suficiente para interromper a atividade clástica. Forças intermitentes podem ser convenientes no tratamento ortodôntico

Uma nova aplicação de forças requeriria uma retomada
do processo desde o seu início.

A “teoria das 10 horas” formulada por Andrews
determinou clinicamente a necessidade do uso contí-
nuo de aparelhos ortodônticos removíveis, se o objetivo fosse a movimentação dentária. Por outro lado,
a teoria das 10h dá suporte à ancoragem temporária
na intercuspidação, como o uso alternado de elásticos
intermaxilares nos dentes antagonistas na finalização
de casos clínicos, movimentando apenas os dentes de
interesse, sem efeitos colaterais indesejáveis nos demais dentes que não se quer movimentar.
O tempo de 10h estabelecido por Andrews
 se aproxima do observado por Roberts et al., que preconizaram
a utilização do aparelho extrabucal entre 10 e 12h para
a manutenção da ancoragem e um mínimo de 12h para
desencadear a resposta biológica capaz de promover
a movimentação dentária satisfatória. Uma condição
favorável de neoformação e reabsorção requer alguns
dias de força contínua dissipante para que os osteoblastos e clastos adquiram condições máximas de fun-
ção. Do início da histogênese do osteoblastos, quando
passa da fase de pré-osteoblastos, até sua maturação,
são necessários aproximadamente 72h. Os clastos por
sua vez, em um espaço periodontal sob estresse, alcan-
çam sua função máxima por volta de 48h.
Apesar de amplamente difundida, a “teoria das 10
horas” só foi microscopicamente estudada em 1996,
quando Cuoghi, em sua tese de doutorado em macacos, quantificou a movimentação dentária nas primeiras
24h e estudou microscopicamente os fenômenos teciduais induzidos, para esclarecer a conveniência do uso
clínico de forças contínuas ou intermitentes. Sob força
contínua dissipante analisou-se a movimentação depois
de 5, 10, 15, 20 e 25h. Na situação de força contínua intermitente os períodos foram: 10h de força com 5h de
repouso, 10hF/10hR, 10hF/5hR/5hF e 10hF/5hR/10hF.
Os resultados nas primeiras 25 horas revelaram que:

a) a movimentação dentária induzida atingiu seu
pico máximo após 10h de força contínua dissipante;
b) nos períodos de 10, 15, 20 e 25h as movimentações dentárias não apresentaram diferenças significantes, pois permaneceram no mesmo patamar das
10h de movimentação;
c) as forças contínuas sem períodos de repouso
proporcionaram maiores movimentações. Após 10h de
força contínua dissipante e repouso de 5h, a quantidade de movimentação foi menor nas reativações em
períodos de 5 e 10h de força.

As conclusões foram:

1. Para uma movimentação dentária efetiva, as
forças devem ser contínuas. Os períodos de repouso
devem ser mínimos e a interrupção da força não favorece a movimentação dentária;
2. Nas primeiras 20h, microscopicamente sem
alterações ósseas, a movimentação ocorreu pela compressão do ligamento e pela deflexão óssea e não pela
ação de células clásticas e conseqüente reabsorção óssea alveolar;
3. A deflexão óssea nos lados de pressão e tensão
está intimamente relacionada com a pressão radicular
e o estiramento das fibras periodontais.

A falta de movimentação dentária induzida, com
base na reabsorção óssea nas primeiras 20 horas, revela
que a interrupção das forças pode ser conveniente clinicamente na ancoragem temporária, como na intercuspidação, com uso alternado de elásticos intermaxilares nos dentes antagonistas, facilitando a finalização
de casos clínicos. Os dentes utilizados na ancoragem
durante a intercuspidação voltam a sua posição original, pois o seu movimento baseou-se exclusivamente
na compressão periodontal e na deflexão óssea. A mobilização celular e tecidual para iniciar esta movimentação requer um período muito maior que 10 horas.
Outro enfoque sobre as forças contínuas ou intermitentes está na observação que o emprego de forças
descontínuas promoveu menor freqüência de reabsor-
ções radiculares em pré-molares humanos movimentados por 9 semanas

. Em um dos lados, a força aplicada com elásticos foi contínua por 24h/dia, no outro a
força era aplicada a cada 12h.


Leia aqui:
http://www.dentalpress.com.br/cms/wp-content/uploads/2008/04/controversia_v5n5.pdf
Imagem: Google

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